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Jessica Stout: Confissões de uma Técnica de Eutanásia

Publicada por PortugalZoofilo.Net em 12 de Maio de 2009


Abaixo está a tradução de um post encontrado num blog que nos dá uma visão de dentro sobre um dos lados mais discriminados da área de acolhimento e tratamento de animais abandonados. Foi escrito por Jessica Stout uma profissional na área animal dos Estados Unidos da América.

"Ser técnica de eutanásia foi sem dúvida a parte mais difícil da minha carreira na área animal. Quando trabalhava para o canil municipal não recusávamos qualquer animal, independentemente de serem ou não adoptáveis. Tinhamos mesmo um contrato que definia que deveriamos eutanasiar animais que considerássemos, sob o nosso critério exclusivo, dever ser abatidos.

Na sua maioria os técnicos de eutanásia abstraem-se do seu dia-a-dia trocando piadas uns com os outros e desligando aquelas vozes que surgem das nossas entranhas e nos dizem que somos os maiores traidores do mundo. Afinal supostamente estamos ali para proteger os animais, correcto? E assim conseguimos erguer uma carapaça à nossa volta que nos protege, ou impede, de ver a realidade do que fazemos. Nós matamos animais. Nós matamos animais que estão doentes e idosos. Nós matamos animais com dificuldades de socialização e/ou perigosos. E matamos animais que são saudáveis e adoptáveis mas que simplesmente não são pretendidos por ninguém. Esta é a realidade do nosso trabalho.

Matar os animais doentes, idosos e problemáticos que não se adequam para adopção, mesmo sendo difícil é mais fácil de justificar do que matar os animais adoptáveis. Mas na verdade quando temos 300 boxes, estamos com a lotação permanentemente esgotada e surgem diariamente 20 a 50 animais para acolher diariamente, algo tem que ceder. E é nessa altura que os animais saudáveis e adoptáveis são ´destruídos´.

Há alturas em que a nossa carapaça quebra. São essas rachas inevitáveis que permitem a infiltração da realidade daquilo que fazemos. Há coisas que me sobressaiem constantemente na memória, que ficaram gravadas para sempre, e nunca mais esquecerei. Passei a minha vida a prestar auxílio a animais, retirá-los de situações críticas para situações confortáveis. Dediquei a minha vida a ajudar a aliviar o seu sofrimento, e a ser uma voz em sua defesa. Apesar das centenas de animais que salvei ao longo dos anos, ainda há alturas em que paro e penso sobre o tempo em que fui técnica de eutanásia, e a magnitude do que fiz esmaga-me completamente. Apenas me permito fazê-lo por um curto período de tempo porque temo que se me dedicar a pensar profundamente no que fiz isso me possa destruir. Infelizmente vi isso acontecer a muitos dos meus colegas e em resultado um deles cometeu suicídio e muitos outros recorreram ao álcool para afogar as suas mágoas.

O próximo parágrafo é duro pelo que se não tiverem o estômago para ler um pouco mais sobre animais adoptáveis eutanasiados sugiro que saltem a sua leitura.

Penso muitas vezes numa adorável pequena cadela labrador preta que esteve para adopção 2 meses até que chegou a altura em que tivemos de a abater porque não tinhamos espaço, porque o seu tempo tinha expirado. Ela olhou para mim com os seus grandes e castanhos olhos que confiavam plenamente em mim, deu-me a sua pata quando a pedi, e lambia-me a face enquanto a injectava com a solução que a eutanasaria. Penso no homem que nos trouxe 10 cachorros de oito semanas para serem adormecidos porque ia de férias e não queria cuidar deles. Penso como eles sem suspeitar se enrolavam e brincavam uns com os outros enquanto eu os apanhava um a um e lhes ceifava a vida. Penso nas inúmeras gatas ferais mães que olhavam completamente aterrorizadas enquanto nós lhes retirávamos as crias, as matávamos e de seguida matávamos a mãe. Penso no dia em que nos foram entregues 72 gatos saudáveis e adoptáveis para serem mortos numa tarde.

Como gostaria de dizer que foram apenas casos excepcionais, que isto não foi o que fiz diariamente durante 3 anos. Mas a verdade é esta. É o que um técnico de eutanásia enfrenta diariamente no seu emprego. E fazêmo-lo porque nos importamos. Porque sabemos que tem de ser feito por alguém, e que ao menos quando nós o fazemos, aquele animal receberá a última festa na cabeça ou coçadela atrás das orelhas. E cada vez que alguém do público nos chama "assassino de animais", porque não percebe a realidade daquilo porque passamos, isso magoa-nos.

Existe uma história muito conhecida sobre uma técnica de eutanásia que sonhou numa noite que tinha falecido e ido para o céu onde todos os animais que já tinha eutanasiado estavam por trás dos portões pérola e não a deixavam entrar. Eu gostaria de acreditar que os animais percebem melhor o que fazemos do que o público em geral o parece perceber. Gostaria de acreditar que eles apreciariam os homens e mulheres que assumiram esse papel para assegurarem que este mal necessário é feito da melhor forma possível. Pensando melhor, talvez esteja a ser idealista e é apenas o modo que encontrei de manter a minha carapaça resistente e inquebrável. Suponho que nunca o saberei."

Convido os leitores a acederem ao post original e deixarem o seu comentário.


Fonte: Animal Advocating      Para saber mais: http://animaladvocating.com/confessions-of-a-euthanasia-technician/






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