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Reportagem: Focinhos que esperam amor - por Inês Moreira Santos

Publicada por Focinhos & Bigodes em 19 de Janeiro de 2009


Reportagem: Focinhos que esperam amor - por Inês Moreira Santos

A manhã está solarenga e fria. Os cães vão latindo, enquanto passeiam irrequietos nas boxes. Formam um longo corredor, ocupando-o de ambos os lados. O espaço que resta, ao ar livre, serve de pátio, vedado por uma rede, para que os animais possam correr e brincar. Em pano de fundo, podem ver-se as Galerias Comerciais Twin Towers.

São muitos os animais que a Focinhos e Bigodes acolhe e tem ao seu cuidado. Trata-se de uma associação apenas composta por voluntários, situada em S. Domingos de Benfica, mesmo ao lado da União Zoófila. Recolhe cães abandonados e acompanha também algumas colónias de gatos de rua.

Por entre os cobertores estendidos e as casotas arrumadas no pátio, surge L. B. que, de sorriso aberto, cumprimenta os cães, que ladram efusivamente à sua chegada, na esperança de atenção. L. é estudante e vive na Amadora. Tem 24 anos e é voluntário na “Focinhos”, como carinhosamente lhe chama, há quase dois. Adora cães e, como em casa não poderia ajudá-los como Família de Acolhimento Temporário (FAT), optou por ser voluntário em associações, primeiro, na União Zoófila e, actualmente, na Focinhos e Bigodes.

Hoje, chegou mais cedo que o costume. Atravessa o pátio, já com umas galochas pretas calçadas que o ajudarão nas suas funções. Para além de L., esta manhã estão apenas na associação mais duas voluntárias a limpar as boxes interiores. O jovem tem hoje a seu cargo a limpeza das exteriores, cuja porta dá acesso directo ao pátio.

Sempre que limpa uma box, L. solta os dois cães que a habitam para que possa trabalhar mais à vontade. Da primeira box, saem Kuki, um cão pequeno e branco, que só há bem pouco tempo perdeu o medo de se aproximar das pessoas, e Menina, a favorita de L., uma cadela preta de grande porte, um pouco tímida. “Já a ensinei a sentar, a dar a patinha, a deitar…”, refere L. com orgulho.

Enquanto lava a primeira box, conta que, para além da limpeza do canil, os voluntários realizam outras tarefas como “dar a comida, ajudar em tratamentos, ajudar em campanhas de adopção, na angariação de donativos. [Ajudam também] na divulgação do canil, por exemplo, através da Internet. É um meio que utilizamos muito”.

Correm agora pelo pátio Madona e Fritz. Madona é uma bonita cadela de pêlo escuro, com manchas castanhas e brancas. De olhos azuis, que lembram os de um husky, exibe um ar desconfiado. Hoje, não sai de perto de L., que, com a mangueira, lava a segunda box. Madona adora água e aproveita assim para se divertir. Enquanto isso, Fritz, um cão cor de mel, muito sociável e irrequieto, não pára de correr por todo o lado, com uma alegria contagiante.

L. explica que “temos excesso de animais e não temos condições para os ter todos aqui no canil. Conseguimos pô-los num hotel, que faz preços especiais”. Ao olhar para o corredor de boxes, percebe-se que são muitos os cães em canil. Actualmente, na Focinhos e Bigodes “temos 14 animais em hotel e 58 em canil, ou seja, temos 72 cães ao todo. Depois também existem os gatos que a associação alimenta, esses são difíceis de contabilizar, mas ultrapassam os 20 gatos”.

Passeiam pelo pátio outros cães, ao mesmo tempo que L. explica como se procede quando chega um novo animal à associação: “Normalmente os animais que aqui estão são achados na rua. Temos de ver como o cão está, se está bem, alimentá-lo, ver se tem chip ou não, o que agora, mais do que nunca, é importante. Por acaso temos tido sorte, porque há animais que têm chip e conseguimos descobrir quem são os donos. Outros têm chips, mas há muita burocracia e os papéis não foram entregues no sítio devido. Assim, não se consegue descobrir o dono”. Já na associação “os animais são desparasitados, interna e externamente, são vacinados. Damos aqui as vacinas contra tudo, contra a raiva, contra as doenças normais e ainda contra a tosse do canil”, continua L. . Quando já está tratado, “fazemos a divulgação do animal. Pomos no Portugal Zoófilo ou em blogues, até se achar um dono”.

No caso das cadelas devem ter-se cuidados especiais: “Esterilizamos as cadelas todas. Pode demorar um bocadinho mais consoante entram mais cadelas ou não. Por acaso agora temos umas cinco. Duas ou três cá e outras em hotel, porque entraram todas ao mesmo tempo”, afirma o voluntário.

L. continua o seu trabalho, enquanto conta a história da Focinhos e Bigodes. O canil pertencia a uma senhora que veio de África. Ao ser realojada pela câmara e “como tinha muitos cães, pediu que lhe dessem uma casa, mas com canil”, conta L. . A casa era nas primeiras boxes que estão em obras de remodelação. O restante espaço era para os cães. A senhora pediu ajuda a algumas pessoas para que a auxiliassem com o canil, entre elas a actual presidente, Ana Francisco, e a vice-presidente, e deixou-lhes o canil.

Houve então a necessidade de criar uma associação, pois “duas pessoas não conseguem sustentar estes animais todos. Assim, nasceu a Focinhos e Bigodes”, afirma L. . A associação “existe, formalmente, desde Março de 2006, embora este grupo já apoie animais de rua há alguns anos e esteja neste canil desde Agosto de 2003”, conclui.

De repente, ouvem-se gritos. As voluntárias estão em dificuldades e L. corre para o interior da associação para ajudá-las. O habitual barulho do ladrar dos cães diminui bruscamente. Também eles parecem perceber que algo não está bem. Marquês, um cão de porte médio, atacou a sua companheira de box, Safena Dourada.

Minutos depois, o silêncio é quebrado pelos primeiros latidos. O problema está resolvido. Foi necessário separar Marquês e Safena. L. está de regresso. Esta luta “ajuda a perceber que, muitas vezes, não podemos dar entrada de animais no canil só porque foi adoptado algum. Temos de ter sempre em conta os companheiros que esses cães vão ter”, afirma.

Eis que chega mais uma voluntária, por volta do meio-dia. T. B., de casaco azul e com as galochas já nos pés, entra no pátio, sorridente. Cumprimenta L. e saúda os animais.

T. B. é sócia-fundadora e voluntária da Focinhos e Bigodes. É ainda madrinha de dois cães. “Dá muito prazer tirar o sofrimento aos animais”, diz a voluntária. “Para além de passear, dar miminhos, ajudar com uma contribuição mensal”, os padrinhos podem também suportar as despesas dos seus afilhados no veterinário.

Entre os cães da primeira box, encontra-se Gold, uma cadela castanha arraçada de Doberman, muito meiga. Foi recolhida pela Focinhos depois de ter sido abandonada uma primeira vez. Adoptaram-na, mas cerca de uma semana depois, Gold foi devolvida pelo novo dono à associação. Regressou muito mais magra, visivelmente fora negligenciada. Agora, com os cuidados dos voluntários, está muito melhor.

Na mesma box está Smarty, cuja história impressiona. Foi abandonado, juntamente com Mummy, a sua mãe. Encontraram-nos escondidos na garagem da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, e levaram-nos para a associação. “Avisaram-nos logo que o Smarty tinha ataques, e realmente viemos a confirmar que ele tem epilepsia”, diz T. B.. “A Mummy vinha com tumores mamários enormes”, acrescenta com tristeza. Mummy não resistiu à doença, que já ia muito avançada. Já Smarty está bem, “está a tomar medicação e está perfeitamente controlado em termos de epilepsia”, conclui T..

Uma surpresa para todos os voluntários foi a recente adopção da Pretinha. A Pretinha “tinha uma certa aversão a homens”, conta T.. No entanto, um senhor gostou muito dela e resolveu adoptá-la, mesmo sabendo deste problema. Para espanto de todos, a Pretinha habituou-se muito rapidamente ao seu novo dono. “Aquela cadela esteve aqui três anos à espera que aparecesse o dono ideal”, afirma T. com satisfação.

Durante a tarde, chegarão padrinhos e mais voluntários à Focinhos e Bigodes para visitar e auxiliar estes animais tão carentes e com tanto para dar. Apesar, das suas histórias tristes, estes animais vivem na esperança de um futuro feliz, tal como o da Pretinha.



Fonte: http://revistan.org/2009/01/09/reportagem-focinhos-que-esperam-amor/     






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